A Igreja Católica adota a doutrina da justificação forjada por São Tomás de Aquino, para quem “todo mérito é contrário à graça, como o Apóstolo afirma: Se é pela graça, já não é pelas obras (Rm 11:6)". Porém, para Aquino, essa limitação ao mérito opera somente "antes de o homem se colocar sob a graça [...] pois o termo [final] da salvação é a vida eterna, e o progresso nesse caminho é o aumento da caridade ou da graça, em conformidade com Provérbios 4:18: A vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito. Portanto, o aumento da graça inclui o mérito” (AQUINO, São Tomás de. Summa theologica. In "Great books of the western world". Vol. 18. II, 114, 5. p. 374, 376).
Esse ensinamento de Tomás não se ajusta ao de Paulo de maneira perfeita. Para o apóstolo, a imputação exclui totalmente o mérito e não apenas antes da conversão. Imputação e mérito são termos antagônicos e, como a justiça é sempre imputada, o mérito nunca a introduz. Isso não quer dizer que a vida humana não envolva uma cadeia de atos meritórios e não meritórios. Ela o faz e é por isso que a Bíblia nos fala de recompensas e punições. Porém, a cadeia do mérito é paralela à da graça, não faz parte dela, pois a imputação exclui o mérito, tanto antes quanto depois da primeira graça.
Num blog católico, encontro a seguinte crítica à doutrina protestante da justificação: “Para os protestantes, a justificação é imputação de justiça. Ou seja, o homem não é justo, e nunca o será, mas (creiam-me ou não) Deus finge que ele é. Ou seja, pela doutrina protestante, Deus como que nos diria: "sei que não sois justos, sei que não tendes boas obras, mas finjo que sois aquilo e que tendes estas" [...] Por que cargas d'água um protestante prefere acreditar nesta 'pantomina divina' do que crer, serenamente, que Deus é poderoso para fazer de nós homens cada dia mais próximos da perfeição?” (www.veritatis.com.br).
Essa é uma caricatura do que os evangélicos realmente sustentam. Para eles, Deus imputa os pecados do homem a Cristo, não finge que eles não são pecados. Imputa, também e inversamente, a justiça de Cristo ao homem. É o que nos diz Paulo: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). A explicação da doutrina de Paulo, que acabo de mencionar, é de R. C. Sproul.
Observo, com consternação, a polêmica contra Sproul, em que o Living Stream Ministry (agora Ministries?) se engajou nos Estados Unidos. Vivi sob esse ministério, muitos anos. Aceito a legitimidade do seu empenho em levar os ensinos de Witness Lee ao meio evangélico. Por isso também, compreendo os motivos que levaram o Christian Research Institute a se retratar da acusação de heresia feita a Lee no passado, ao publicar um número inteiro da sua revista sobre esse tema, com o título “We were wrong” (Christian Research Journal. Vol. 32, nº 6, 2009). Mas as críticas do LSM a Sproul revelam uma radicalização doutrinária perigosa.
Cá no Brasil, nunca discutimos os erros fundamentais de Lee, a não ser superficialmente. Os norteamericanos mostraram-se muito mais bereanos que nós. Discutiram e até hoje discutem, em profundidade, a teologia de Lee. Ao ler os seus debates, porém, encontro nos teólogos prontos a condená-lo, certa incompreensão da personalidade de Lee. Não que a instância doutrinária não se revista de autonomia, mas a compreensão da vida da pessoa ajuda a entender a formação da sua doutrina.
Digo-o como quem, simplesmente, manifesta a sua opinião. E olhem que não ignoro os escritos de Lee. Sou dado à leitura, mas devo dizer que, por muito que tenha lido tantos autores, li mais Witness Lee do que todos eles. Isso porque, com paixão própria da pouca idade, submeti-me a um rigoroso treinamento na teologia dele, que transcendeu o que era exigido nos cursos oficiais do Living Stream. Mas li-o tanto também por encontrar em Lee uma inteligência criativa e uma paixão pela vida interior com Cristo que me atraíram fortemente.
A criatividade é um traço da personalidade desse teólogo chinês. Um traço que, talvez, o tivesse feito um intelectual bem-sucedido em outros campos, caso tivesse dedicado a eles a sua existência. Mas Lee dedicou-se à Teologia, embora não gostasse de utilizar essa palavra e, ainda menos, o termo religião (basta lembrar Christ versus religion)! Infelizmente, na Teologia, os terrenos estão minados para a criatividade, e os espíritos, armados contra ela. O preço da criatividade foi cobrado a Lee em incompreensões. Por isso acolho com boa vontade a palavra final favorável do Instituto de Pesquisa Cristã sobre ele.
Mas não a tomo como definitiva. Vivi o bastante para aprender que a heresia é um perigo real. Estou a afirmar que Lee foi herético? Não, pois sinceramente o que aprendi sobre ele não me parece suficiente para fechar tal juízo. Entendo que Lee ande perto do que, em geral, se entende por heresia, no meio protestante. Mas Paulo e os primeiros cristãos não tinham semelhante conceito do desvio herético. Num meio que admitia variações doutrinárias tão amplas quanto as que vigoravam entre os fariseus, os saduceus, os zelotes e os essênios, sem mencionar as subcorrentes desses grupos e as seitas menores, heresia era mais o isolamento de uma facção em torno de uma doutrina absurda do que diferenças na interpretação das Escrituras.
Por isso achamos tanta liberdade de falar, por exemplo, em Paulo. Nada encontramos, no primeiro século, que se pareça com a defesa da imputação que ele nos legou, nessa página imortal que é Romanos 4. Paulo verdadeiramente afirmou algo novo e chocante na sua época. E só o fez, porque sentiu liberdade para isso. Uma liberdade dupla, aliás: liberdade interior decorrente da fé e exterior por causa da relativa aceitação da diversidade doutrinária no meio em que ele vivia.
Mas, se a criatividade é um traço da personalidade de Lee, não posso afirmar o mesmo da ênfase que depositava na vida interior. A vida com Deus não é própria da personalidade de alguém. É antes um dom. E pode tornar-se (no caso de Lee, tornou-se) um dom muito desenvolvido e notável.
Disse que, no Brasil, nunca nos ocupamos dos erros fundamentais de Lee. Mas tal era a atenção que alguns (muitos) de nós dispensavam aos seus ensinamentos que, se tivessem caráter tão nocivo quanto o que os críticos americanos lhes atribuem, dificilmente teriam passado assim tão in albis para tanta gente. Tínhamos um ambiente parcamente bereano, é verdade, mas não almas pouco bereanas. Individualmente, líamos Lee com atenção. Se estávamos condicionados a concordar com ele, também devotávamos aos seus escritos e pregações uma atenção que duvido se reproduza na maior parte dos teólogos que o estudaram. E acho espantoso que, lendo-o e escutando-o dessa maneira, jamais tenhamos chegado ao fio das condenações que se pronunciaram a respeito dele. Suspeito que não o tenhamos feito, não porque não entendêssemos o que se passava, mas porque entendíamos melhor a sua personalidade e a diretriz fundamental da sua vida, que foi a experiência interior com Cristo.
Porém, assim como as grandes virtudes, os erros de Lee também emanaram das características da criatividade e da vida interior que tanto o distinguem. Foram antes de tudo excessos cometidos nessas linhas. A partir de certo momento e não sem ser insuflado por seguidores diretos, Lee se tornou um novidadeiro. A invenção de palavras novas e a afirmação de doutrinas críticas foram levadas tão longe, por ele, que originaram rematados absurdos. Muitos desses absurdos são dogmaticamente irrelevantes, mas alguns não o são. E, no clima de louvação santa (como se tal disparate fosse possível) que se instalou, em torno dele, Lee passou a revelar uma disposição cada vez menor a aprender com os outros.
A paixão pela vida interior, por sua vez, levou Lee a desenvolver uma justificação teológica dela, em flagrante conflito com a doutrina da imputação. Nesse ponto particular, ele se aproximou inconscientemente da doutrina católica da infusão gradual de justiça não simplesmente a partir de fora, mas no interior do crente. Tudo de forma bastante incomum, já que Lee não abominava menos (nem mais) os erros católicos do que os setores protestantes fundamentalistas.
Para aquilatar bem isso, ouçamos o que o blog católico já mencionado assevera sobre a justificação: “Uma vez que eles [os protestantes] creem no sola fide veem-se obrigados a garimpar uma doutrina da justificação que dispense as boas obras. Em outras palavras [...] uma justificação que lhes seja externa. Uma justificação que não tenha, no fundo, e no frigir dos ovos, nada a ver com o crente” (www.veritatis.com.br).
O texto ataca a justificação pela fé, para defender a doutrina católica da infusão da justiça mediante as obras, os sacramentos etc. Lee sustentou coisa semelhante, em busca de uma justificação teológica para a sua proposta de espiritualidade. Para ele, a vida de Cristo é infundida no crente, gradativamente, ao longo de toda a sua vida. Nisso consiste a salvação para Lee e não só num procedimento de imputação.
É o que se costuma exprimir como uma salvação com aspectos complementares, um deles judicial, outro orgânico ou de infusão de vida.
A busca do meio-termo entre correntes opostas, que se digladiaram sem composição na História, é comum em Witness Lee. Mas, quase nunca, é bem-sucedida. É o caso da doutrina da infusão defendida por ele, que tanto depende da sua proposta de espiritualidade e, por isso, precisa ser analisada à luz dela. No que tem de mais proveitoso, a espiritualidade de Lee é haurida de uma série de místicos cristãos da História. A maior parte, a exemplo de Madame Guyon e Father Fenèlon, pertenceu à Igreja Católica. Escritores protestantes como William Law e Andrew Murray, em que Lee também se inspirou, embora ligados a uma espiritualidade viva e intensa, talvez não mereçam o enquadramento simples de místicos.
Pode-se questionar, também, em que medida Lee absorveu sua proposta de espiritualidade de Watchman Nee. Não há dúvida de que ele inspirou-se muito nesse pregador chinês, mas o ímpeto inovador que sempre demonstrou levou-o a transcender até as crenças e práticas místicas de sua principal fonte de inspiração. Somos, pois, levados a concluir que a espiritualidade proposta por Lee não é de cepa católica, nem protestante. Tampouco é exatamente a de Watchman Nee. É uma espiritualidade singularíssima. Característica ressaltada dela é ter-se tornado radical, não como experiência individual, mas coletiva. A mística de Lee é, a meu ver, com efeito, uma prática coletiva, uma prática de reuniões. Com o desenvolvimento de tecnologias de última geração, tem-se tornado, também e estranhamente, uma prática virtual.
O tratamento de uma espiritualidade tão peculiar não cabe nos limites deste texto dedicado à justificação. Não tentarei, pois, realizá-lo. Basta-me assinalar o traço extremado dela e da doutrina da infusão plasmada a fim de justificá-la. Só na aparência, a doutrina de Lee é um meio-termo. No fundo e em verdade, ela é uma radicalização malsucedida.
A inteira questão gira em torno da ideia de filiação defendida por Lee. Numa tentativa de refutar o número “We were wrong”, do periódico CRI, o teólogo Brandon Adams selecionou as seguintes passagens de escritos de Lee e do LSM sobre o tema: “Toda vida produz descendência segundo a sua espécie (Gn 1:11,21,24). Como filhos de nosso pai físico, temos a vida e a natureza de nosso pai, mas não somos a mesma pessoa que ele. Um avô, um pai e um filho têm todos a mesma vida e natureza, mas são diferentes pessoas. Em vida e natureza, eles são o mesmo, mas em pessoa são diferentes. Como filhos de Deus (Rm 8:16; 1 Jo 3:1), fomos deificados, não em pessoa, mas em vida e natureza (The experience and growth in life. pp. 209-210)”.
Num outro texto, o Living Stream volta suas baterias contra Sproul: “Ele [Sproul] escreve que ‘Jesus é o único Filho natural de Deus. Todos os outros entram na sua família pela adoção’. Tal afirmativa contradiz diretamente a revelação das Sagradas Escrituras, que nos dizem em termos inequívocos que nós, crentes, nascemos de Deus e consequentemente somos sua prole real (Sproul’s saved from what?)” (ADAMS, Brandon. "The false gospel of Witness Lee and the Living Stream Ministries”. Disponível em www.contrast2.wordpress.com/2010/09/25).
Esse é um erro de Lee, mas um erro que se comete no mister de interpretar um ensino bastante complexo, com vertentes literais e simbólicas que se interpenetram: o do novo nascimento e da nova vida em Cristo. Sproul interpreta o novo nascimento, à luz da imputação. Conclui que Deus nos imputa a condição de filhos, o que equivale a adotar-nos. Em seu apoio, está a evidência léxica de que huiostesía, termo grego traduzido adoção em nossas Bíblias, era correntemente usado nesse sentido, no primeiro século. Lee argumenta que o termo inclui o radical huiós (filho). Aí tropeça, pois a tradução de uma palavra não é igual à da soma de seus elementos. Átomo vem de elementos que significam não e partes. Se o princípio hermenêutico de Lee estivesse correto, a palavra deveria ser traduzida “coisa sem partes” ou indivisível, mas continuou a ser empregada da mesma maneira, depois que o átomo foi fracionado. Não pode, assim, indicar algo indivisível, pelo mesmo motivo por que a presença do radical filho em huiostesía não infiltra no termo o significado de filiação natural.
No fundo, a ideia de filiação de Lee é uma reductio ad absurdum (redução ao absurdo) da mística. É válido a alma crer-se mesclada e em koinonía com Deus. 2ª de Pedro 1:4 chega a afirmar que somos participantes (comungantes, no original) da natureza de Deus. Mas o contexto do verso explicita que seu autor referia-se à participação que decorre do ato de entender algo. Não de entender a natureza de Deus, é claro, mas de entender as promessas divinas. Os antigos achavam que entender era participar da ideia do que é pensado. Para muitos, isso era o mesmo que participar desse ser. Difícil é extrair a palavra participantes desse contexto filológico e cultural para lhe atribuir interpretação apropriada a experiências místicas. Mas foi exatamente o que Lee realizou.
E o que se diz da filiação vale, em linhas gerais, também para o nascer de novo, o ser nova criatura etc. Esses termos foram empregados como metáforas, por Jesus e por Paulo, ambos mestres da linguagem simbólica. Porém, todas as vezes em que a entrada na família de Deus é abordada em termos literais, na Bíblia, a palavra adoção e equivalentes são utilizados. É o caso de João 1:12: “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que creem no seu nome”. Um poder de ser feito não é um nascimento literal. É, antes, uma imputação.
Acresce que, assim como exclui o mérito, a imputação também exclui a regeneração literal, pois imputar é atribuir um significado para criar uma relação nova. A condição de filhos de Deus é-nos imputada, a fim de inaugurar um novo tipo de relação entre nós e Deus. Essa relação é tão forte que é descrita pela metáfora do novo nascimento. Mas, com ampla ajuda do termo huiostesía, ela foi sempre entendida, pelos primeiros cristãos, como adoção. É o que consta em toda a literatura patrística.
A esse esclarecimento, haverá quem alegue o que lemos na continuação de João 1:12: "os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus". Se desejamos extrair do verso um nascimento de Deus, fazemos bem. Mas é preciso atentar para o alcance de vistas que o autor sagrado tinha, ao escrever João 1:12. Antes de afirmar que nascemos de Deus, ele considerou três espécies de geração: do sangue, da vontade da carne e da vontade do homem. Sabemos o que é geração do sangue, mas às vezes passamos por alto a geração da vontade, que o autor do Evangelho claramente considerou. Ora, nascer da vontade é experimentar um nascimento psíquico, não físico. Esse é um ponto importante, pois não há garantia alguma de que o nascimento de Deus mencionado no verso não seja também psíquico. Parece-me que é um nascimento da vontade de Deus, pois se deve à sua decisão de nos imputar a condição de filhos. Os membros das Igrejas Locais têm dificuldade de admitir isso, pois separam radicalmente o espírito da mente do homem e localizam o novo nascimento no primeiro. Mas não é isso que Paulo faz, em Romanos. Pelo contrário, vemos, nos capítulos 6 a 8 da epístola, que ele coloca a mente no centro do processo de salvação e da própria regeneração. No que não diverge do pensamento cristão da época.
Não constitui boa prática, na verdade é bastante perigoso, qualquer teólogo alterar uma interpretação sobre o ser de Deus ou a salvação que tenha sido selecionada por muitas gerações de cristãos. Não é certamente impossível, mas improvável que isso possa ser feito com sucesso. A ideia de filiação por adoção é muito antiga entre os cristãos. No século IV, Hilário de Poitiers escreveu dos hereges que negavam a divindade de Cristo: "Afirmam estar [Cristo], como nós, submetido a Deus criador e ser Filho por adoção" (POITIERS, Hilário de. Tratado sobre a Santíssima Trindade. São Paulo: Paulus, 2005. p. 48). Nessa passagem, Hilário admite que a interpretação de que somos filhos adotivos de Deus era corrente entre os cristãos e não herética.
A vida e a natureza de Deus são incomunicáveis. Se as possuíssemos, teríamos as propriedades consequentes delas, assim como a onisciência, a onipotência e a onipresença, mas estamos infinitamente longe disso. A fé cristã não veio ao mundo para ampliar a incompreensão do real por absurdos tão rematados. Veio para aumentar a compreensão da vida, a posse da verdade pelo homem, e desse modo foi entendida, nos primeiros séculos. Esse é também o estado em que o Novo Testamento deixa a questão da nossa relação com Deus.
Se pensasse que nascemos literalmente de Deus, acaso Paulo teria posto tanta ênfase na imputação e mencionado essa ideia nove vezes, só no capítulo 4 de Romanos? Não teria antes se dedicado a mostrar as glórias de possuirmos os atributos inerentes à vida e à natureza de Deus? Notemos a ausência de qualquer ensino claro e não metafórico, a esse respeito, em Romanos. E saibamos concluir dela que não era intenção do apóstolo transmitir tal ensino.
Sei que as pessoas gostam de decisões do tipo herético ou não herético. Querem posições peremptórias. Mas esse gosto dogmático nem sempre pode ser satisfeito. Não havia tal dogmatismo no primeiro século. Como podemos atribuir às doutrinas dos cristãos daquela época o que nem eles próprios colocavam nelas?
O dogma veio bem depois das cartas de Paulo, do Evangelho de João e dos livros neotestamentários de modo geral. O que não significa que não tenha grande importância, como cristalização histórica. Mas um é o poder do indivíduo; outro, o das gerações. O indivíduo pode ter convicções, mas não lhe cabe fechar julgamentos sobre questões que estão além de seu poder. Quem sou eu para dizer que João se interpreta assim e Romanos de tal outro modo? Digo o que sinto e aprendi sobre João e Romanos, apenas isso. O mais as gerações construirão, pois a elas incumbe tal tarefa.
As gerações estão acima de nós, como a nuvem de testemunhas de Hebreus 12:1. Porém, as Escrituras estão acima das gerações. Os dogmas brotaram do chão da História; as Escrituras surgiram de um lugar situado fora dela. Surgiram do alto. Por isso, para interpretá-las, o indivíduo deve saber onde tem o seu nariz. Mas tem também o direito sagrado de proceder como indivíduo livre.