sábado, 3 de agosto de 2013

O Moisés Histórico (1)

Nenhum fato histórico reveste-se de importância maior, para a estrutura literária e teológica do Antigo Testamento, do que o Êxodo e a formação da nação de Israel, sob a liderança de Moisés. Se esses acontecimentos forem reais ou se o teor histórico das narrativas que os transmitem for elevado, o impacto sobre a Teologia e disciplinas como a História e a Literatura será tão forte que desencadeará inevitável pressão no sentido de mudanças culturais mais amplas.
Não me refiro apenas aos aspectos miraculosos das narrativas, mas ao seu arcabouço fundamental. Se os fatos desse arcabouço constituírem verdades históricas, não literais, mas, digamos, literárias, isto é, se elementos arcaicos das Tribos que mais tarde se uniram para formar Israel tiverem sido escravizados no Egito, fugido de lá, sob a liderança de Moisés, peregrinado no deserto, adquirido dimensões nacionais e uma cultura baseada na Lei (Torá), o Pentateuco terá de ser considerado amplamente veraz, do ponto de vista histórico. E, se a época em que esses grandes acontecimentos se passaram tiver sido a que os dados cronológicos da Bíblia apontam (século XVI a. C.), então o inteiro arcabouço da História das nações vizinhas de Israel, principalmente das grandes potências, como o Egito e a Assíria, terá de ser revisto, nos pontos de desacordo com o Pentateuco, que não são poucos.
Para pôr as coisas em termos claros, é inegavelmente revolucionário pensar que os fatos narrados no Pentateuco podem ser verdades históricas, pois historiadores e arqueólogos contemporâneos, em grande número, deixaram de crer nisso, há muito tempo. E o que possibilita a dúvida sobre a posição assumida por eles é a fragilidade do fundamento em que se estriba, já que a evidência externa ao Pentateuco é lacunosa demais para elidi-lo, nos pontos em que o contraria. Procurarei demonstrar por quê, na série de textos que hoje se inicia.
Devo esclarecer, a princípio, que a história a que farei referência, ao discutir o problema assim colocado, não é um feixe de acontecimentos narrados literalmente, no Pentateuco. Não é uma História Literal, mas Literária, uma História preservada e reestruturada continuamente sob forma de textos, que acabaram por se confundir com os fatos que narram.
Esses textos são, é claro, os do Pentateuco, mas também os das suas fontes, pois elas existiram e foram muito numerosas. Parto da pressuposição de que essas fontes realizaram o trabalho básico de preservar e reestruturar os fatos que nos transmitiram. Mas esse não é o único pressuposto que adoto, ao refletir sobre o Êxodo e a formação de Israel no deserto.
Considero que a veracidade básica do Pentateuco depende, ainda e de maneira nuclear, da existência histórica de um líder como o Moisés bíblico. Sem esse líder, os dados do Pentateuco desconectam-se uns dos outros e perdem factibilidade, do ponto de vista da História Comparada. Enfim, sem Moisés, não é sequer possível constituir uma hipótese sobre a História do Pentateuco.
A existência real de Moisés é, porém, um problema conexo à inserção de sua vida em determinado recorte do tempo histórico. Claro que, se procurarmos um Moisés real no século XXI, não o encontraremos. O mesmo é verdade se o procurarmos numa época muito recuada de tempo, na qual, por motivos claros, ele não possa ter existido. De sorte que o Moisés histórico tem, antes de tudo, de ser associado a um período em que as informações sobre ele façam amplo sentido.
Infelizmente, um consenso duvidoso formou-se não só em torno da época de Moisés, mas de todo acontecimento bíblico anterior aos Juízes. O problema coloca-se de maneira simples: na cronologia interna da Bíblia, cerca de 973 anos se passam entre o Êxodo e o Cativeiro Babilônico (605 a. C.). Desse período, 433 anos correspondem às conquistas das Tribos por povos locais e sua libertação pelos juízes. Porém, dos 433 anos dos juízes, os historiadores só costumam reconhecer 100 ou 150. Sobrepõem os outros ou consideram-nos simples invenção literária. Claro que esse entendimento leva à localização de todo e qualquer evento anterior aos juízes cerca de 350 anos depois da época em que a Bíblia o situa. O Êxodo e a formação de Israel, no deserto, não são absolutamente exceções. Eles costumam ser arrastados para o século XIII a. C. pelo expurgo parcial do tempo dos juízes.
Pode-se perguntar se essa mutilação cronológica tem bom fundamento histórico. Se olharmos atentamente os dados bíblicos e a História Paralela, veremos que nada disso não está absolutamente claro. Por exemplo, por volta de 1.200 a. C., os filisteus avançaram do sul da Europa para a Ásia Menor e o Oriente Médio. Juízes nos informa que alguns integrantes dessa enorme onda invasora e os amonitas oprimiram os filhos de Israel que habitavam na Transjordânia (Jz 10:8). Enquanto a opressão ocorria, o juiz Jefté dirigiu-se ao rei de Amom. Na mensagem que transmitiu a esse príncipe opressor, Jefté referiu-se a um dado cronológico fundamental. Afirmou que Israel havia habitado 300 anos na Transjordânia, sem que os amonitas tivessem recuperado as cidades daquela região (Jz 11:26). Se somarmos as parcelas de tempo entre o juizado de Jair, que foi o último antes da opressão amonita-filisteia,  até a opressão de Israel por Cusã-Risataim (Jz 3:8), que inaugura o Período dos Juízes, chegaremos a  301 anos.
Não há razões internas ou externas à Bíblia para desconsiderarmos esses 300 anos. Se o fizermos, a invasão filisteia tornar-se-á contemporânea à conquista de Canaã pelos israelitas. Dificilmente, há lugar, na História da Palestina, para essas invasões simultâneas. Supô-las seria como admitir que dois exércitos rivais pudessem invadir ao mesmo tempo um mesmo território. De sorte que não há motivo para admitirmos o expurgo dos 300 anos. E, se recuarmos 973 anos da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, em 605 a. C., chegaremos a 1.578 a. C. Essa é a época do Êxodo, de acordo com a evidência interna da Bíblia.
O consenso arqueológico vigente, por outro lado, costuma situar o Êxodo no século XIII a. C., não evidentemente com base na cronologia  bíblica, mas em evidências científicas recentes. No entanto, esse consenso desconsidera um outro corpo de conhecimentos a respeito do Êxodo, a saber, a descrição desse acontecimento que Flávio Josefo legou-nos na sua obra. Josefo reporta-se ao historiador egípcio Maneton, o único a registrar a conquista do Egito pelos hicsos e sua posterior expulsão. Como o historiador judeu identificou claramente os israelitas do Êxodo com os hicsos, a associação do seu relato ao de Maneton reveste-se de considerável autoridade no que tange àquele grande acontecimento.
Reitere-se que Josefo é absolutamente claro, ao identificar os israelitas com os hicsos. De acordo com ele, Maneton, "depois de ter protestado que tiraria dos livros santos a história do Egito, que ele queria escrever, diz que nossos antepassados, tendo ido para lá em grande número, se haviam tornado senhores de tudo [exatamente como sucedeu com os hicsos], mas que algum tempo depois foram expulsos de lá e se estabeleceram na Judeia".
Sabemos que os hicsos foram semitas, como os hebreus. E que, também como os filhos de Jacó, eles vieram da Palestina, que dominaram na mesma época em que oprimiram o Egito. É  o que o arqueólogo John Arthur Thompson, da Universidade de Cambridge, esclarece: “A Palestina era organizada de maneira feudal nesse período e consistia de vários pequenos estados, que prestavam lealdade ao rei hicso” (THOMPSON, John Arthur. A Bíblia e a Arqueologia – quando a ciência descobre a fé. 2ª ed., São Paulo: Vida Cristã, 2007. p. 61).
O  testemunho de Josefo é, portanto, uma primeira evidência externa à Bíblia de que o Êxodo se deu, no fim do Período Hicso. Há outras evidências do mesmo fato.  Uma delas é a ausência de relatos diretos da saída dos hebreus, nos anais egípcios. Sabemos que, ao contrário de todos os períodos anteriores e posteriores, em que os nomes e atos dos governantes egípcios foram cuidadosamente registrados, durante o domínio dos hicsos (1.730-1.570 a. C.), a História Egípcia mergulha em profundo silêncio. De acordo com Werner Keller: “Nenhuma nação do antigo Oriente nos transmitiu a própria história com tanta fidelidade como o Egito. Até 3.000 anos a. C., podemos acompanhar quase sem uma falha os nomes dos faraós, conhecemos a sucessão de dinastias do Antigo, do Médio e do Novo Império. Nenhum outro povo traçou com tanta precisão os acontecimentos importantes [...] porém as informações quase ininterruptas sobre séculos remotos cessam bruscamente pelo ano 1730 a. C. A partir de então envolve o Egito a mais profunda escuridão. Só em 1580 a. C. ressurgem testemunhos” (Idem. pp. 88-89).
O arqueólogo John Arthur Thompson, da Universidade de Cambridge, explicou o silêncio a respeito dos hicsos da seguinte maneira: “Sabemos hoje que os reis da XVII Dinastia se esforçaram ao máximo para apagar todos os traços dos governantes hicsos [pelo fato de terem sido estrangeiros que conquistaram o Egito]. Os nomes deles foram eliminados dos monumentos e todo registro escrito foi destruído” (THOMPSON, John A. Ob. cit. São Paulo: Vida Cristã, 2004. p. 61).
A suspensão dos registros históricos, durante o Período Hicso, permite entender por que a saída tumultuada dos israelitas não foi expressamente descrita, nos anais egípcios. Embora o Egito tenha mantido o registro mais completo de que se tem notícia, na Antiguidade remota, o período em que esteve sob domínio dos hicsos é marcado por uma ampla lacuna de dados.
Não há igual lacuna, no período da XIX Dinastia. Menos ainda no reinado de Ramsés II, em que o Êxodo costuma ser localizado. No livro O Egito no tempo de Ramsés, Pierre Montet resume o que se conhece dessa época áurea: "Nenhuma porção desse vasto império foi negligenciada por Ramsés I e seus sucessores. Da Núbia a Pi-Ramsés e a Pitum quantas cidades foram fundadas, quantos edifícios foram ampliados, restaurados e até mesmo erigidos! Esses monumentos, essas tumbas dos reis e das rainhas, principalmente os dos contemporâneos, fornecem uma abundante documentação. Para completá-la, dispomos de numerosos papiros que datam dos séculos XIII e XII, romances, obras de polêmica, coletâneas de cartas, listas de obras e de operários, contratos, atas" (MONTET, Pierre. O Egito no tempo de Ramsés - 1.300 a. C. a 1.100 a. C. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pp. 15-16).
Em contraste com a ausência de informações sobre o Período Hicso, há abundância de documentos sobre o reinado de Ramsés. Montet esclarece por quê: "Faraó é filho de um deus. O que fez realizou-se com a permissão desse deus e geralmente com a sua ajuda. Relembrar os feitos heroicos de seu reinado era portanto um meio de honrar os deuses" (idem. p. 13). Era dever dos Faraós honrar os deuses, o que se fazia pela preservação da narrativa dos seus feitos como rei. Portanto, nada do que Ramsés realizou, em sua época, foi omitido nos documentos a que Montet alude. Devemos, pois, perguntar por que a utilização do trabalho hebreu na construção de cidades, templos e outras obras não é neles mencionada? Por que as conversações de Faraó com Moisés e Arão tampouco aparecem? E a saída dos israelitas? E a sua perseguição pelo exército egípcio? Por que ao menos a versão egípcia desses acontecimentos não se encontra no vasto acervo de documentos disponível? Vê-se que a lacuna de informações, tão justificada para o Período Hicso, torna-se injustificável no de Ramsés, o que afasta a localização do Êxodo no século XIII, deixando-nos com a só alternativa do fim do Período Hicso.
Josefo afirmou que os israelitas e os hicsos não foram só parentes, mas contingentes distintos de um mesmo povo. Ele baseou essa teoria no historiador egípcio Maneton, que vimos ter sido o único a fornecer informações sobre a expulsão dos hicsos. Porém, não a baseou exclusivamente nele. Pelo contrário, é provável que o historiador judeu tenha associado os hebreus com os hicsos, em conformidade com tradições judaicas imemoriais. Um eco, a meu ver muito claro, dessas tradições pode ser encontrado na passagem em que o profeta Ezequiel trata Israel e Judá como duas prostitutas: "Filho do homem, houve duas mulheres, filhas de uma só mãe. Estas se prostituíram no Egito; prostituíram-se na sua mocidade; ali foram apertados os seus peitos e apalpados os seios da sua virgindade.  Naquela terra os seus peitos foram acariciados e os seus seios da sua virgindade. Os seus nomes eram: Oolá, a mais velha, e Oolibá, sua irmã; e foram minhas e tiveram filhos e filhas; e, quanto ao seu nome, Samaria é Oolá, e Jerusalém é Oolibá" (Ez 23:3-5).

Embora a linguagem do texto seja figurada, a lição que ele transmite não o é. O profeta afirma claramente que Oolá é o Reino do Norte, Israel, e Oolibá, o Reino do Sul, isto é, Judá. Esses povos não só já existiam (embora não fossem politicamente independentes), na época do Êxodo, como se tinham prostituído no Egito. Ainda que admitíssemos que o Grupo de Moisés se envolveu na adoração de outros deuses, antes de se retirar do Egito, não é possível pensar que eles tenham sido retratados, pelas prostitutas Oolá e Oolibá, posto que a geração do Êxodo pereceu no deserto, com exceção de Josué e Calebe.
Quem originou Israel e Judá, portanto, não foi o Grupo de Moisés, mas a chamada segunda geração, que nasceu, no deserto, ou foi acrescida ao contingente liderado por Moisés, quando ele ali peregrinava. Porém, sob o véu da figura de linguagem, o texto afirma que as duas nações de hebreus originaram-se dos povos prostituídos (idólatras) Oolá e Oolibá, que saíram do Egito. Essa representação coaduna-se, perfeitamente, à teoria de que os hicsos foram expulsos do Egito e juntaram-se ao Grupo de Moisés no deserto.
Ezequiel era sacerdote. Como ele não faz da prostituição no Egito o cerne da sua pregação, mas a cita de passagem, como se fosse um dado aceito por muitos, temos de reconhecer, no seu oráculo sobre Oolá e Oolibá, um eco da antiga tradição judaica, da qual a teoria de Josefo descende.
É verdade que a teoria de Josefo padece de imprecisões naturais para a época em que foi elaborada, mas elas não lhe retiram o valor de verdade. Josefo baseia-se no fato de que, em tempos tão recuados, o parentesco e a proveniência comum de hebreus e hicsos de Canaã os tornavam um só povo, para todos os fins práticos, o que não faz pouco sentido.
No entanto, o grupo que se alçou ao poder, no Delta do Nilo, naquela época, foi o dos hicsos, não o dos israelitas. Nessas condições, não é improvável que o grupo hicso tenha oprimido os descendentes de Jacó, obrigando-os a construir as cidades-celeiros e a realizar outras obras. Josefo chega a descrever essas obras como a escavação "de vários diques para deter as águas do Nilo e diversos canais para levá-las. Faziam-nos trabalhar na construção de muralhas para cercar as cidades, levantar pirâmides de altura prodigiosa e mesmo os obrigavam a aprender com dificuldade artes e diversos ofícios”.
 Porém, à identificação dos israelitas com os hicsos podem-se opor argumentos como a declaração de Faraó de que “o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós” (Êx 1:9). Nesse verso, o rei do Egito diferencia os israelitas do seu próprio povo. Porém, já expliquei que a hipótese de Josefo não implica a identificação total dos dois grupos. Hicsos e israelitas foram levas distintas de imigrantes do mesmo povo. Faraó referiu-se a essa distinção, para justificar a opressão dos hebreus.
Interpretado corretamente, Êxodo 1:19 chega a ser favorável à teoria da localização no Período Hicso, pois os israelitas, como estrangeiros, dificilmente poderiam ser mais numerosos do que os egípcios, mas poderiam superar os hicsos em número, pois haviam chegado ao Egito antes deles, o que explica o temor do "rei do Egito" de que os israelitas viessem a tornar-se mais fortes que eles.
Mas, se insistirmos, poderemos imaginar outros argumentos contrários à teoria de Josefo. Por exemplo, quando saíram do Egito, os israelitas não cruzaram a “terra dos filisteus”, para não “ver a guerra”. Nos exatos termos do Livro de Êxodo, “Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito” (Êx 13:17).
Sabemos que os filisteus só se fixaram na região costeira da Palestina, em 1.200 ou pouco depois. Por isso, a referência à “terra dos filisteus”, em Êxodo 13:17, é um anacronismo típico da literatura da época. Na realidade, a intenção do seu autor foi afirmar que os israelitas não passaram pela terra que viria a ser dos filisteus. E, pelo mesmo motivo, a guerra a que o verso se refere não envolvia os filisteus. Era antes a “movimentação militar” dos hicsos, na costa do Mediterrâneo, nos moldes que a Bíblia de Jerusalém esclarece: “Esse era o caminho normal, paralelo à costa, passando por Silé (El-Kantara atual), pontilhado de poços e policiado. O grupo que fugiu certamente não o tomou (Bíblia de Jerusalém. 5ª impressão, São Paulo: Paulus, 2008. Êx 13:17, nota 3. p. 120). A ambientação do Êxodo no século  XVI exige que o policiamento mencionado na nota seja o exercido pelos hicsos, que dominavam o local naquela época.
No entanto, o argumento talvez mais forte, em prol da localização do Êxodo no fim do Período Hicso, é o fato de o Grupo de Moisés, que saiu do Egito, ser geralmente descrito como pequeno, pois teve sérias dificuldades para vencer Amaleque, uma tribo pouco numerosa, ao passo que os censos do Livro de Números apontam cerca de 600 mil israelitas aptos para a guerra, pouco tempo depois. A melhor explicação para a passagem do pequeno grupo mosaico à nação de Números é a proximidade entre o Êxodo e a expulsão dos hicsos. Isso porque, se os israelitas fugiram, e os hicsos foram expulsos quase ao mesmo tempo do Egito, os dois contingentes podem ter-se gradativamente reunido no deserto e formado uma só nação. Nada disso destoa do tratamento que Josefo dispensa aos dois povos. Explica também por que, embora o Grupo de Moisés fosse militarmente fraco, Israel veio a ser uma nação poderosa após a fusão com os guerreiros hicsos.