Um dos princípios que norteiam a interpretação de Apocalipse é o da simetria simbólica. De acordo com ele, símbolos idênticos têm significado idêntico, e símbolos parecidos, significados semelhantes. Por exemplo: Apocalipse refere-se a vários cavalos, a outros animais, a duas mulheres simbólicas, selos, trombetas, taças, fogo e muitos outros símbolos, que se repetem ao longo das suas páginas. Alguns deles são idênticos, assim como o cavalo branco dos capítulos 6 e 19. Por isso, o seu significado é invariável. Já os símbolos semelhantes, como os cavalos de cores distintas de Apocalipse 6, têm significados também semelhantes. Até mesmo acontecimentos distintos, no interior de símbolos semelhantes, como as visões das trombetas e das taças, guardam uma simetria geral.
Tudo isso se aplica aos selos de Apocalipse. Os quatro primeiros deles introduzem cavalos de diferentes cores. O branco reaparece no capítulo 19, que afirma que o seu cavaleiro “está vestido com manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus” (Ap 19:13). Não há dúvida de que essa pessoa é Jesus Cristo. Porém, se as visões de Apocalipse são simbólicas, Jesus no cavalo branco é um símbolo de outra realidade, no caso o evangelho do reino de Deus. Esse evangelho é que sai “vencendo e para vencer” o Império Romano (Ap 6:2). Assim como o Cordeiro que rompe os sete selos é um símbolo da pessoa divina de Cristo, quando este aparece no cavalo branco o evangelho é que está simbolizado.
O segundo cavalo é vermelho. Ao seu cavaleiro é dado “tirar a paz da terra” (Ap 6:4), isto é, provocar a guerra civil. O terceiro é preto, e o seu cavaleiro traz na mão uma balança para pesar uma medida de trigo e três de cevada. O quarto animal é amarelo, e o seu cavaleiro chama-se Morte. Segue-o o Hades (Ap 6:8). Na Antiguidade, essas três experiências ocorriam ao mesmo tempo, nos cercos que antecediam a queda de cidades. Por isso, elas indicam o período que antecedeu a conquista de Roma pelos bárbaros.
O quarto cavaleiro recebe autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras. Esses flagelos caírem na quarta parte da terra significa que incidirão no mundo do quarto reino da estátua de Nabucodonosor, isto é, no Império de Roma. Como tudo nas visões de João, a morte pelos quatro flagelos também é um símbolo. Ela indica a agonia do Império Romano, no seu último século de existência. Assim como a violência, a fome, a peste e as feras dizimam uma população pouco a pouco, a guerra civil, as más colheitas, agentes naturais e invasores bárbaros acabaram com Roma. Esse processo se acentuou no final do século IV, quando os acontecimentos dos selos se iniciaram.
Com base no princípio da simetria, o território que o cavalo branco percorre é o mesmo do qual o homem do cavalo vermelho tira a paz e onde o trigo, a cevada, o azeite e o vinho do terceiro cavalo são negociados, a saber: o Império Romano histórico. Nele, o evangelho é pregado; sobre ele, os flagelos recaem.
Cavalos são bestas. Em Apocalipse, bestas significam reinos. A guerra civil, as más colheitas, epidemias e invasões que compõem os quatro primeiros selos incidem em reinos do Império Romano. Assim como Herodes, o Grande, e Agripa foram reis submissos a Roma, vários outros soberanos obtiveram os direitos da realeza, mas permaneceram sob a autoridade do Imperador romano. Deve-se entender que os acontecimentos dos quatro primeiros selos se passam nesses reinos da “quarta parte da terra”.
Embora os símbolos do quinto, do sexto e do sétimo selos sejam muito diferentes dos cavalos que os antecedem, o fato de estarem contidos em selos cria uma simetria geral com os acontecimentos mencionados acima. Também eles se relacionam ao Império Romano. As almas (o sangue) dos mortos do quinto selo são os mártires sacrificados nas perseguições aos cristãos. E os cataclismos do sexto selo são conquistas que põem fim aos últimos reinos do Império Romano.
Por fim, o sétimo selo é aberto no capítulo 8. Seu conteúdo é claramente constituído pelas sete trombetas: “Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora. Então vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas” (Ap 8:1-2).
Por integrarem o sétimo selo, as trombetas relacionam-se a Roma. Elas culminam com o aparecimento da primeira besta do capítulo 13, cujas cabeças são sete Césares daquele Império (Ap 17:8-11). Porém, como na guerra antiga as trombetas preparavam os exércitos para o combate, os acontecimentos de Apocalipse 8 a 14 prenunciam o conflito final de Anticristo com os seguidores do evangelho.
Nenhum dos reinos da estátua de Daniel 2 estendeu-se para além da fronteira setentrional do Império Romano, porque nenhum general derrotou o Frio que ali impera. Tampouco algum deles ultrapassou as fronteiras meridional e ocidental de Roma, por causa do Deserto e do Mar. Essa é uma tônica histórica: os maiores e mais gloriosos reinos humanos terminam nos extremos da natureza. No entanto, os reinos anteriores a Roma, na estátua de Nabucodonosor, ultrapassaram a fronteira oriental dos romanos, situada nas proximidades do Eufrates. Essas terras orientais são a terça parte da terra (Ap 8:7), do mar (Ap 8:8-9), dos rios, das fontes (Ap 8:10-11), do céu (Ap 8:12) e dos homens (Ap 9:15,18), nas quais os acontecimentos das trombetas recaem. Do modo como a quarte parte representa Roma, a terceira é o mundo subjugado pelo reino de bronze da estátua, vale dizer, a Grécia, que se estendeu além do Eufrates, em direção ao oriente.
Do ponto de vista das profecias, essa terça parte é o complemento histórico de Roma. O que o Império dos Césares não realizou (a conquista do oriente) os reis que a controlam farão. Porém, somente até que os juízos das sete trombetas caiam sobre eles, como veremos na próxima postagem, se Deus o conceder.