Consideremos o caso do Império Britânico e seu legítimo sucessor: os Estados Unidos. A importância histórica deles é incomensurável. Raras vezes, um reino conseguiu escapar à contenção exercida por seus rivais, em tão grande medida quanto a Inglaterra e os Estados Unidos, nos séculos XIX e XX. Se considerarmos não só o poderio militar, mas também o econômico dos povos mais dominantes da História, apenas Roma poderá elevar-se ao patamar de preponderância da Inglaterra no século XIX e dos Estados Unidos hoje. E paradoxalmente, as profecias parecem calar-se a respeito dessas duas superpotências.
A omissão, porém, pode ser apenas superficial. Daniel 2 afirma que um reino de ferro misturado com barro sucedeu o das pernas somente de ferro da estátua do sonho do rei Nabucodonosor: “Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil” (Dn 2:42). Se as pernas de ferro representam Roma, o fato de os pés serem em parte de ferro parece indicar que o poder do Império dos Césares não desapareceu, com a dissolução do seu Estado, mas atravessou a Idade Média e chegou aos tempos modernos.
O ouro, a prata, o bronze e o ferro de que quase toda a estátua é feita ensinam que ela, em geral, é bastante sólida, porém a fragilidade dos pés em parte
de barro permite que não apenas eles, mas a estátua inteira seja destruída. A lição profética é de que isso
acontecerá, no final dos tempos, mediante a intervenção do Messias (a pedra
da profecia) na História.
Na Idade Média, os principais candidatos a representar os pés em parte de ferro da estátua foram considerados o reino dos francos e o Sacro Império Romano-Germânico. Antes do cisma ortodoxo, a íntima ligação deste último com o Papa lhe permitiu estender sua influência ao Oriente, por meio de sucessivas alianças com os bizantinos. Com isso, algo do poder abrangente de Roma foi preservado. Após o Cisma, as Cruzadas foram utilizadas para manter um poder universal ativo sobre o Ocidente e o Oriente. E depois das Cruzadas, as navegações e os descobrimentos exerceram a mesma função. De modo que um poder semelhante ao de Roma, primeira na História a reger o Ocidente e o Oriente, atravessou o período medieval.
No entanto, o processo de dominação dos povos dos pés da estátua só se cristalizou maximamente com o Império Britânico e os Estados Unidos da América. Como a estátua do sonho tinha duas pernas, que representam as porções ocidental e oriental do Império Romano, ela tinha também dois pés, que correspondem aos reinos surgidos nas antigas metades imperiais. A Inglaterra fez parte tanto de uma como da outra etapa de desenvolvimento da estátua.
Embora estejam na América do Norte, os Estados Unidos também fazem parte dos pés da estátua. Se prestarmos bem atenção, veremos que nem o reino de ouro, nem o de prata, o de bronze, o de ferro ou o de ferro misturado com barro são tratados como povos do passado. A pedra lançada, no fim dos tempos, destroi a estátua inteira, não somente seus pés (Dn 2:34-35,44-45). Isso significa que todos os cinco reinos estarão sobre a Terra, quando Cristo (a pedra) vier. Portanto, o ouro, a prata, o bronze e o ferro não podem ser, apenas, os reinos históricos de Babilônia, da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma. Mais do que os reinos, eles devem ser a cultura que continuou a existir e se transmitir, de maneira muito mais excêntrica, após o desaparecimento dos respectivos Estados.
A cultura do quinto povo espalhou-se por todo o mundo, durante o período colonial. Podemos denominar Diáspora essa expansão, da qual surgiram a América Latina e o mundo ocidental como o conhecemos. Ambos estão incluídos nos pés da estátua. Como núcleos do mundo ocidental, o Império Britânico e os Estados Unidos são a parte de ferro (países mais fortes) deles.
Os dedos dos pés da estátua correspondem aos dez chifres da cabeça do quarto animal de Daniel. Eles são reis dos últimos tempos, que entregarão seu poder a Anticristo (Ap 17:12-13). Na postagem sobre o quarto animal, veremos que esses reis procederão do mundo islâmico, em torno do Mar Mediterrâneo. Porém, se os pés da estátua incluem a Diáspora Ocidental (colonialismo), os reis deverão manter importante relação com o Ocidente. Principalmente, com a parte mais dominante (a parte de ferro) dele.
Assim como os dedos são parte dos pés, os dez reinos integrarão o contexto da Diáspora Ocidental, que se constituiu a partir de Roma e tem nos Estados Unidos o país-núcleo mais importante. E assim como não se pode esperar que o barro prevaleça sobre o ferro, o contexto da Diáspora deverá ser definido pelos países mais fortes dela. Por isso, tanto o Ocidente como os Estados Unidos têm um papel relevante a desempenhar, no quadro profético das Escrituras.
A noite é escura e impregnada do imperceptível. Por isso, o trabalho de vigiar, nas horas antes da alva, é profundamente silencioso, quando não também solitário. A sentinela que rompe o silêncio antes da hora falha na sua missão. Assim também, para o cristão, velar sobre o tempo atual é atentar para fatos como os apontados acima, não fazer estardalhaço com as profecias bíblicas. A boa sentinela destaca-se pela atenção com que olha e escuta, não pelo alarido antecipado que faz.