O discurso escatológico de Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 localiza a segunda vinda de Cristo, com muita clareza, após uma grande tribulação e a dispersão dos judeus pelo mundo. Do ponto de vista dele, esses três acontecimentos são os maiores da História humana, a partir do final do primeiro século.
Lucas 21:7-9, por sua vez, esclarece que a destruição de Jerusalém e do Templo, como Jesus a previu, não seria imediata. Entre o discurso escatológico e o seu cumprimento, deveriam ocorrer perseguições (Mt 24:12-19), guerras, tumultos (Mt 24:9), catástrofes naturais (Mt 24:11). Jesus localizou esses acontecimentos num período denominado princípio das dores (Mt 24:8).
Tanto em Marcos como em Mateus e Lucas, o discurso escatológico refere-se ao cerco e à conquista de Jerusalém pelos romanos. Porém, ele se projeta até a revolta de Bar Kochba, ocorrida no século II, quando os romanos ergueram um santuário a Júpiter sobre o fundamento do Templo. A construção desse santuário foi a abominação da desolação, a que o profeta Daniel se referiu: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, então, os habitantes da Judeia fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma cousa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa” (Mt 24:15-17).
Tito não introduziu abominação (imagem) alguma no Templo, quando o destruiu no ano 70. A narrativa de Josefo sobre a conquista de Jerusalém, por aquele príncipe, isenta-o de toda responsabilidade pela profanação da Casa de Deus (JOSEFO, Flávio. Guerra dos judeus contra os romanos. Livro Sexto, Cap. 26). A abominação só foi introduzida ali com a consagração do santuário a Júpiter, no século II. De modo que as destruições preditas por Jesus se estendem até esse evento, ocorrido por ocasião da revolta de 132 d. C.
O fato de Josefo não mencionar o discurso escatológico, ao narrar a destruição de Jerusalém, não significa que ele não foi proferido. O historiador judeu escreveu: "Os profetas predisseram que essa mísera cidade será destruída" (ob. cit. Livro Sexto, Cap. 8). Referiu-se também à "predição feita há muito tempo, de que, depois de uma grande divisão, Jerusalém seria tomada" (ob. cit. Livro Quarto, Cap. 22). Ainda de acordo com ele, quando a predição se cumpriu, "aquele povo infeliz [...] fechava os olhos e tapava os ouvidos para não ver, nem ouvir os sinais certos e os verdadeiros avisos pelos quais Deus lhe tinha predito a própria ruína" (ob. cit. Livro Sexto, Cap. 30). Os nomes dos profetas que anunciaram antecipadamente a destruição de Jerusalém não foram citados, por Josefo, porém seus escritos deixam claro que predições do evento não foram de maneira alguma incomuns.
Esse foi o primeiro grande evento predito no discurso escatológico: a grande tribulação. A intervenção seguinte de Deus na História, após um tempo não determinado na profecia, será o retorno de Jesus à Terra: “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem” (Mt 24:27). A figura do relâmpago ensina que a manifestação visível de Jesus aos homens, quando do seu retorno, terá duração efêmera.
Em Atos 1:11, dois anjos disseram aos discípulos que haviam acabado de observar a ascensão: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir”. Nas profecias sobre o fim dos tempos, quando anjos apresentam ou explicam predições, sua fala deve ser interpretada literalmente. Isso significa que, em conformidade com Atos 1:11, o retorno de Cristo será tão visível quanto a sua ascensão o foi. “Todo olho o verá” (Ap 1:7), porém a visão será tão breve quanto o clarão de um relâmpago.
A segunda vinda cumpre Daniel 7:13-14: “Eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do homem [...] Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem”. O cumprimento é, porém, parcial, já que, em Daniel, o filho do homem são os santos do Altíssimo: “Cheguei-me a um dos que estavam perto, e lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim ele me disse e me fez saber a interpretação [...] Os santos do Altíssimo receberão a realeza e a conservarão por toda a eternidade” (Dn 7:16,18). Ao compararmos os versículos 13 e 14 de Daniel 7 com os de 16 a 18, verificamos que o filho do homem receber "o domínio, a glória e o reino" equivale a os santos do Altíssimo receberem "a realeza e a conservarem por toda a eternidade".
O costume de igualar o filho do homem de Daniel a Jesus resulta de uma interpretação imprecisa. O anjo afirmou que essa figura escatológica representa os santos do Altíssimo. É claro que Jesus está incluído nesse número; daí ele ter empregado a expressão a si mesmo, em Mateus 24:27. Porém, em outras passagens, Jesus ensinou que a vinda do filho do homem ocorreria na sua época. Mateus 10:23 é um exemplo: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do homem”.
A predição desse versículo não se cumprirá, após a vinda de Anticristo, nos últimos tempos. Pelo contrário, é afirmado claramente que o filho do homem veio antes de os discípulos enviados por Jesus terminarem de ministrar às cidades e aldeias de Israel. Portanto, no século I d. C. Essa vinda se deu, quando vários “santos do Altíssimo”, a exemplo de Moisés, Elias (Mt 17:3) e os que saíram de suas tumbas, quando Jesus ressuscitou (Mt 27:52), apareceram em corpos glorificados.
Por esses motivos, a vinda do filho do homem não é um único acontecimento, mas uma sequência deles. Ela começou durante o ministério público de Jesus e continuará até o retorno visível dele, no extremo final dos tempos. Não há dia certo para o retorno do próprio Jesus ocorrer e a vinda do filho do homem (os santos do Altíssimo) se completar. Jesus recomendou que os seus seguidores vigiem e orem, para lhes ser concedida a compreensão desses acontecimentos e para que possam ser guardados dos eventos terríveis que estão por vir.