sexta-feira, 30 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (6): Os Sete Selos

Um dos princípios que norteiam a interpretação de Apocalipse é o da simetria simbólica. De acordo com ele, símbolos idênticos têm significado idêntico, e símbolos parecidos, significados semelhantes. Por exemplo: Apocalipse refere-se a vários cavalos, a outros animais, a duas mulheres simbólicas, selos, trombetas, taças, fogo e muitos outros símbolos, que se repetem ao longo das suas páginas. Alguns deles são idênticos, assim como o cavalo branco dos capítulos 6 e 19. Por isso, o seu significado é invariável. Já os símbolos semelhantes, como os cavalos de cores distintas de Apocalipse 6, têm significados também semelhantes. Até mesmo acontecimentos distintos, no interior de símbolos semelhantes, como as visões das trombetas e das taças, guardam uma simetria geral.
Tudo isso se aplica aos selos de Apocalipse. Os quatro primeiros deles introduzem cavalos de diferentes cores. O branco reaparece no capítulo 19, que afirma que o seu cavaleiro “está vestido com manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus” (Ap 19:13). Não há dúvida de que essa pessoa é Jesus Cristo. Porém, se as visões de Apocalipse são simbólicas, Jesus no cavalo branco é um símbolo de outra realidade, no caso o evangelho do reino de Deus. Esse evangelho é que sai “vencendo e para vencer” o Império Romano (Ap 6:2). Assim como o Cordeiro que rompe os sete selos é um símbolo da pessoa divina de Cristo, quando este aparece no cavalo branco o evangelho é que está simbolizado.
O segundo cavalo é vermelho. Ao seu cavaleiro é dado “tirar a paz da terra” (Ap 6:4), isto é, provocar a guerra civil. O terceiro é preto, e o seu cavaleiro traz na mão uma balança para pesar uma medida de trigo e três de cevada. O quarto animal é amarelo, e o seu cavaleiro chama-se Morte. Segue-o o Hades (Ap 6:8). Na Antiguidade, essas três experiências ocorriam ao mesmo tempo, nos cercos que antecediam a queda de cidades. Por isso, elas indicam o período que antecedeu a conquista de Roma pelos bárbaros.
O quarto cavaleiro recebe autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras. Esses flagelos caírem na quarta parte da terra significa que incidirão no mundo do quarto reino da estátua de Nabucodonosor, isto é, no Império de Roma. Como tudo nas visões de João, a morte pelos quatro flagelos também é um símbolo. Ela indica a agonia do Império Romano, no seu último século de existência. Assim como a violência, a fome, a peste e as feras dizimam uma população pouco a pouco, a guerra civil, as más colheitas, agentes naturais e invasores bárbaros acabaram com Roma. Esse processo se acentuou no final do século IV, quando os acontecimentos dos selos se iniciaram.
Com base no princípio da simetria, o território que o cavalo branco percorre é o mesmo do qual o homem do cavalo vermelho tira a paz e onde o trigo, a cevada, o azeite e o vinho do terceiro cavalo são negociados, a saber: o Império Romano histórico. Nele, o evangelho é pregado; sobre ele, os flagelos recaem.
Cavalos são bestas. Em Apocalipse, bestas significam reinos. A guerra civil, as más colheitas, epidemias e invasões que compõem os quatro primeiros selos incidem em reinos do Império Romano. Assim como Herodes, o Grande, e Agripa foram reis submissos a Roma, vários outros soberanos obtiveram os direitos da realeza, mas permaneceram sob a autoridade do Imperador romano. Deve-se entender que os acontecimentos dos quatro primeiros selos se passam nesses reinos da “quarta parte da terra”.
Embora os símbolos do quinto, do sexto e do sétimo selos sejam muito diferentes dos cavalos que os antecedem, o fato de estarem contidos em selos cria uma simetria geral com os acontecimentos mencionados acima. Também eles se relacionam ao Império Romano. As almas (o sangue) dos mortos do quinto selo são os mártires sacrificados nas perseguições aos cristãos. E os cataclismos do sexto selo são conquistas que põem fim aos últimos reinos do Império Romano.
Por fim, o sétimo selo é aberto no capítulo 8. Seu conteúdo é claramente constituído pelas sete trombetas: “Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora. Então vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas” (Ap 8:1-2).
Por integrarem o sétimo selo, as trombetas relacionam-se a Roma. Elas culminam com o aparecimento da primeira besta do capítulo 13, cujas cabeças são sete Césares daquele Império (Ap 17:8-11). Porém, como na guerra antiga as trombetas preparavam os exércitos para o combate, os acontecimentos de Apocalipse 8 a 14 prenunciam o conflito final de Anticristo com os seguidores do evangelho.
Nenhum dos reinos da estátua de Daniel 2 estendeu-se para além da fronteira setentrional do Império Romano, porque nenhum general derrotou o Frio que ali impera. Tampouco algum deles ultrapassou as fronteiras meridional e ocidental de Roma, por causa do Deserto e do Mar. Essa é uma tônica histórica: os maiores e mais gloriosos reinos humanos terminam nos extremos da natureza. No entanto, os reinos anteriores a Roma, na estátua de Nabucodonosor, ultrapassaram a fronteira oriental dos romanos, situada nas proximidades do Eufrates. Essas terras orientais são a terça parte da terra (Ap 8:7), do mar (Ap 8:8-9), dos rios, das fontes (Ap 8:10-11), do céu (Ap 8:12) e dos homens (Ap 9:15,18), nas quais os acontecimentos das trombetas recaem. Do modo como a quarte parte representa Roma, a terceira é o mundo subjugado pelo reino de bronze da estátua, vale dizer, a Grécia, que se estendeu além do Eufrates, em direção ao oriente.
Do ponto de vista das profecias, essa terça parte é o complemento histórico de Roma. O que o Império dos Césares não realizou (a conquista do oriente) os reis que a controlam farão. Porém, somente até que os juízos das sete trombetas caiam sobre eles, como veremos na próxima postagem, se Deus o conceder.

domingo, 25 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (4): A Vinda do Filho do Homem

O discurso escatológico de Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 localiza a segunda vinda de Cristo, com muita clareza, após uma grande tribulação e a dispersão dos judeus pelo mundo. Do ponto de vista dele, esses três acontecimentos são os maiores da História humana, a partir do final do primeiro século.
Lucas 21:7-9, por sua vez, esclarece que a destruição de Jerusalém e do Templo, como Jesus a previu, não seria imediata. Entre o discurso escatológico e o seu cumprimento, deveriam ocorrer perseguições (Mt 24:12-19), guerras, tumultos (Mt 24:9), catástrofes naturais (Mt 24:11). Jesus localizou esses acontecimentos num período denominado princípio das dores (Mt 24:8).
Tanto em Marcos como em Mateus e Lucas, o discurso escatológico refere-se ao cerco e à conquista de Jerusalém pelos romanos. Porém, ele se projeta até a revolta de Bar Kochba, ocorrida no século II, quando os romanos ergueram um santuário a Júpiter sobre o fundamento do Templo. A construção desse santuário foi a abominação da desolação, a que o profeta Daniel se referiu: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, então, os habitantes da Judeia fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma cousa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa” (Mt 24:15-17).
Tito não introduziu abominação (imagem) alguma no Templo, quando o destruiu no ano 70. A narrativa de Josefo sobre a conquista de Jerusalém, por aquele príncipe, isenta-o de toda responsabilidade pela profanação da Casa de Deus (JOSEFO, Flávio. Guerra dos judeus contra os romanos. Livro Sexto, Cap. 26). A abominação só foi introduzida ali com a consagração do santuário a Júpiter, no século II. De modo que as destruições preditas por Jesus se estendem até esse evento, ocorrido por ocasião da revolta de 132 d. C.
O fato de Josefo não mencionar o discurso escatológico, ao narrar a destruição de Jerusalém, não significa que ele não foi proferido. O historiador judeu escreveu: "Os profetas predisseram que essa mísera cidade será destruída" (ob. cit. Livro Sexto, Cap. 8). Referiu-se também à "predição feita há muito tempo, de que, depois de uma grande divisão, Jerusalém seria tomada" (ob. cit. Livro Quarto, Cap. 22). Ainda de acordo com ele, quando a predição se cumpriu, "aquele povo infeliz [...] fechava os olhos e tapava os ouvidos para não ver, nem ouvir os sinais certos e os verdadeiros avisos pelos quais Deus lhe tinha predito a própria ruína" (ob. cit. Livro Sexto, Cap. 30). Os nomes dos profetas que anunciaram antecipadamente a destruição de Jerusalém não foram citados, por Josefo, porém seus escritos deixam claro que predições do evento não foram de maneira alguma incomuns.
Esse foi o primeiro grande evento predito no discurso escatológico: a grande tribulação. A intervenção seguinte de Deus na História, após um tempo não determinado na profecia, será o retorno de Jesus à Terra: “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem” (Mt 24:27). A figura do relâmpago ensina que a manifestação visível de Jesus aos homens, quando do seu retorno, terá duração efêmera.
Em Atos 1:11, dois anjos disseram aos discípulos que haviam acabado de observar a ascensão: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir”. Nas profecias sobre o fim dos tempos, quando anjos apresentam ou explicam predições, sua fala deve ser interpretada literalmente. Isso significa que, em conformidade com Atos 1:11, o retorno de Cristo será tão visível quanto a sua ascensão o foi. “Todo olho o verá” (Ap 1:7), porém a visão será tão breve quanto o clarão de um relâmpago.
A segunda vinda cumpre Daniel 7:13-14: “Eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do homem [...] Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem”. O cumprimento é, porém, parcial, já que, em Daniel, o filho do homem são os santos do Altíssimo: “Cheguei-me a um dos que estavam perto, e lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim ele me disse e me fez saber a interpretação [...] Os santos do Altíssimo receberão a realeza e a conservarão por toda a eternidade” (Dn 7:16,18). Ao compararmos os versículos 13 e 14 de Daniel 7 com os de 16 a 18, verificamos que o filho do homem receber "o domínio, a glória e o reino" equivale a os santos do Altíssimo receberem "a realeza e a conservarem por toda a eternidade".
O costume de igualar o filho do homem de Daniel a Jesus resulta de uma interpretação imprecisa. O anjo afirmou que essa figura escatológica representa os santos do Altíssimo. É claro que Jesus está incluído nesse número; daí ele ter empregado a expressão a si mesmo, em Mateus 24:27. Porém, em outras passagens, Jesus ensinou que a vinda do filho do homem ocorreria na sua época. Mateus 10:23 é um exemplo: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do homem”.
A predição desse versículo não se cumprirá, após a vinda de Anticristo, nos últimos tempos. Pelo contrário, é afirmado claramente que o filho do homem veio antes de os discípulos enviados por Jesus terminarem de ministrar às cidades e aldeias de Israel. Portanto, no século I d. C. Essa vinda se deu, quando vários “santos do Altíssimo”, a exemplo de Moisés, Elias (Mt 17:3) e os que saíram de suas tumbas, quando Jesus ressuscitou (Mt 27:52), apareceram em corpos glorificados.
Por esses motivos, a vinda do filho do homem não é um único acontecimento, mas uma sequência deles. Ela começou durante o ministério público de Jesus e continuará até o retorno visível dele, no extremo final dos tempos. Não há dia certo para o retorno do próprio Jesus ocorrer e a vinda do filho do homem (os santos do Altíssimo) se completar. Jesus recomendou que os seus seguidores vigiem e orem, para lhes ser concedida a compreensão desses acontecimentos e para que possam ser guardados dos eventos terríveis que estão por vir.

quarta-feira, 21 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (5): A Parábola da Figueira

É comum os cristãos tomarem as palavras do discurso escatológico de Jesus, nos Evangelhos sinóticos, como uma descrição da grande tribulação que terá lugar no final dos tempos, sob a atuação de Anticristo. Essa interpretação da principal profecia proferida por Jesus apresenta vários problemas. O primeiro deles é o fato de Anticristo não ser mencionado seja na versão de Marcos, seja nas de Mateus ou de Lucas. Quando trata do fim dos tempos, Paulo refere-se expressamente a Anticristo. O mesmo se dá nas Epístolas de João e em Apocalipse. É no mínimo estranho que a personagem central da grande tribulação não apareça, no discurso escatológico, se ele trata exatamente desta.
Outra razão que milita contra a interpretação comum do discurso é a previsão da queda de Jerusalém. Lucas é particularmente claro a esse respeito: “Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação [...] Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles” (Lc 21:20,24).
O cerco de cidades muradas era muito comum na Antiguidade. Deixou de ser assim na guerra moderna. Os sítios de Leningrado e Stalingrado, na União Soviética, durante a Segunda Guerra Mundial, foram muito mais exceções do que a regra. Sobretudo a partir da década de 1990, a conquista de territórios passou a depender quase totalmente do domínio aéreo e do uso de tecnologia à distância. Nesse novo contexto, já não faz sentido se falar em cerco de cidades. De modo que o de Jerusalém não deverá ocorrer numa grande tribulação por vir.
Há ainda outras práticas de guerra típicas da Antiguidade citadas no discurso de Jesus, assim como a expressa na frase “serão levados cativos para todas as nações” (Lc 21:24). Após terem conquistado Jerusalém, no ano 70 d. C., os romanos não só a destruíram como impediram os judeus de habitar na região. Esse exílio compulsório tornou-se ainda mais rigoroso, após a revolta de Bar Kochba (132-135 d. C.), quando o direito de habitar a Palestina foi definitivamente negado aos judeus. Porém, nada disso é provável, possível ou faz qualquer sentido na guerra contemporânea.
A interpretação futurista do discurso chega a negar-se a si mesma: se a tribulação ocorrerá no fim, não haverá tempo para que, à queda de Jerusalém, se siga uma diáspora mundial. Como, pois, poderão os judeus ir de novo cativos a todas as nações? Para resolver problemas como esse, os partidários da interpretação futurista recorrem à teoria segundo a qual a descrição de Jesus algumas vezes refere-se à conquista de Jerusalém no ano 70, e outras, a uma destruição vindoura. Porém, esse parece mais um recurso à confusão do que uma explicação convincente do texto e dos fatos. Pode ocorrer de uma profecia cumprir-se em mais de uma etapa, porém não à vontade do intérprete.
Há outros motivos, pelos quais o cerco e a destruição de Jerusalém mencionados no discurso escatológico se deram no ano 70, de sorte que não estão pendentes de cumprimento. Se não for assim, teremos de concluir que Jerusalém ainda sofrerá um suplício tal que “desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais” (Mt 24:21). Teremos de concluir que a mortandade prevista por Jesus somar-se-á à ocorrida no ano 70. O problema é que Josefo mostrou que os suplícios daquela época foram incalculáveis, e que as palavras faltam para descrevê-los. Se uma destruição pior estiver por vir, teremos de concluir que Deus não só julgará Jerusalém duas vezes como o fará em razão dos mesmos pecados. Esse cruel bis in idem não pode ser aceito por quem considera Deus justo.
O discurso escatológico foi proferido para judeus do primeiro século. Ora, se uma destruição tão vasta batia-lhes às portas, por que Jesus quis alertá-los sobre outra, que teria lugar séculos mais tarde? Os defensores da interpretação futurista dirão que, neste particular, a profecia refere-se à conquista de Jerusalém por Tito e, em outros, à atuação de Anticristo...
Diante de tantos e tão robustos motivos que recomendam a localização dos fatos principais do discurso escatológico por volta do ano 70 d. C., só nos resta admitir que Jesus referiu-se exatamente a essa época. Dos três evangelistas que narram o cerco e a queda, Lucas foi o mais cuidadoso em diferenciá-los da tribulação que ainda está por vir. Em verdade, ele sequer a mencionou: da conquista de Jerusalém, passou diretamente à vinda do Filho do homem nas nuvens (Lc 21:24-27). E como se não bastasse, Lucas ainda retirou a menção dos dias como os de Noé do corpo do discurso escatológico, arrastando-a para o capítulo 17 (versículos 26 a 37) do seu Evangelho. Para quem não está disposto a resistir à evidência, essas atitudes de Lucas indicam o seu esforço consciente para se opor à ideia de que o sermão de Jesus descreve o extremo final dos tempos e para propor que constitui, ao contrário, uma predição da queda de Jerusalém no ano 70.
É, pois, no contexto da queda da capital da Judeia, no século I, que a parábola da figueira deve ser explicada. Disse Jesus: “Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão” (Mt 24:32). E concluiu: “Assim também vós, quando virdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas” (Mt 24:33).
As palavras “todas estas cousas”, no plural, têm de incluir o cerco de Jerusalém. E se assim é, o reverdecimento da figueira pode perfeitamente ter ocorrido alguns anos depois do discurso escatológico, não quando da restauração do Estado de Israel (1.948), como reza a interpretação comum. Penso que o reverdecimento foi a rápida recuperação da independência política, por Israel, e a tomada de cidades e aldeias da Galileia e da Judeia, por judeus revoltosos, no ano 66 d. C. Ninguém menos que Josefo, o historiador, chefiou seus compatriotas nessas conquistas, até a derrota final em Jotapate.
No ano 32, pouco mais ou menos, Jesus declarou: “Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (Mt 24:34). Menos de 40 anos depois, tudo se cumprira. Não pensemos, quase 2.000 mais tarde, que a geração da figueira se conta a partir de 1.948 e ainda não terminou.

segunda-feira, 19 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (3): Duas Mil e Trezentas Tardes e Manhãs

A época do segundo advento de Cristo é indicada no oráculo das 2.300 tardes e manhãs, em Daniel 8: “O bode se engrandeceu sobremaneira; e na sua força quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu. De um dos chifres saiu um chifre pequeno, e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício costumado e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo [...] Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do costumado sacrifício, e da transgressão assoladora, visão na qual era entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Dn 8:8-11,13-14).
Os entendidos de hebraico observam que a tradução literal do segundo verso acima é: “De um deles saiu um pequeno chifre”. A palavra vertida “um deles”, no original, é masculina e concorda com vento, não com chifres, que é feminino. Isso significa que o pequeno chifre procede de um dos quatro ventos, não dos chifres do bode, como várias versões em português declaram.
Além disso, o versículo 10 afirma que, após ter crescido, esse ser misterioso lança as estrelas por terra e as pisa. Lançar por terra e pisar não são atos próprios de um chifre. É de se concluir, pois, que o chifre transforma-se num outro ser, talvez um terceiro animal, além do carneiro e do bode. Esse ser representa o rei dos versículos 23 a 25: “No fim do reinado [dos quatro chifres], quando os prevaricadores acabarem, levantar-se-á um rei de feroz catadura e entendido de intrigas [...] fará prosperar o engano e no seu coração se engrandecerá e destruirá a muitos que vivem despreocupadamente; levantar-se-á contra o príncipe dos príncipes”.
Normalmente, esse rei é identificado com Antíoco Epífanes, que governou um dos reinos surgidos do Império de Alexandre, assolou Jerusalém e profanou o Templo no ano 167 a. C. Porém, se compararmos minuciosamente o texto de Daniel com os fatos históricos, veremos que Antíoco não se tornou forte, após ter surgido. Sua força permaneceu a mesma, durante parte do seu reinado, e ainda decaiu ao final. Além disso, Epífanes não expandiu seus domínios para o sul, o oriente e a terra gloriosa (a Palestina). Na realidade, quase todas as suas expedições militares resultaram em fracassos, alguns retumbantes. E para complementar as divergências entre os seus atos e o do pequeno chifre, ele tampouco deitou abaixo o santuário de Jerusalém, como Daniel claramente afirma.
Devemos, pois, procurar uma interpretação alternativa para o quinto rei do oráculo. Nas notas que deixou sobre o Livro de Daniel, Isaac Newton propôs que esse rei foi um príncipe romano. De acordo ele, os romanos a princípio regeram um território bastante restrito (foram um pequeno chifre) e depois se expandiram. Ao fazê-lo, eles conquistaram uma parte do antigo Império Grego (a Macedônia). Por isso, do ponto de vista histórico, os romanos podem perfeitamente ser considerados o reino que surgiu e se tornou proeminente no território daquele império.
Dos príncipes romanos, um se destaca por ter destruído Jerusalém e o santuário, no ano 70 d. C. Refiro-me a Tito. Porém, a descrição do texto não se ajusta ao perfil que Josefo fornece desse general e Imperador romano. De acordo com o historiador, Tito e seu pai Vespasiano foram generais de índole nobre, não especialistas em intrigas ou enganadores. Porém a Nero, que estava no trono quando o conflito estourou, as palavras de Daniel adaptam-se perfeitamente. Verdade é que esse imperador morreu antes da destruição do Templo, mas os ataques romanos contra os judeus e a profanação do santuário começaram antes e por ordem dele, quando Céstio “marchou contra os [judeus] revoltosos, pô-los em fuga e perseguiu até Jerusalém [...] Depois de ter atravessado Beseta, Scenópolis e o mercado, a que chamam o mercado dos materiais, e tê-lo incendiado, aquartelou na cidade alta” (JOSEFO, Flávio. Guerra dos judeus contra os romanos. Livro Segundo, Cap. 39). Então, iniciaram-se as hostilidades entre judeus e romanos. O pequeno chifre, transformado em cruel animal, passou a lançar por terra e pisar alguns do exército e das estrelas (Dn 8:10).
Por essa época, para se defenderem dos romanos, sicários (assassinos) judeus tomaram o Templo e, ali, “tentaram servir-se da sorte para escolher o grão-sacrificador, afirmando que assim se fazia antigamente [...] Caiu a mesma sobre Fanias, filho de Samuel, da aldeia de Hafrasi, que não somente era indigno de tal cargo, mas ainda tão rústico e ignorante, que nem sabia o que era o sacerdócio [...] Os verdadeiros sacrificadores, olhando de longe essa comédia e de que modo se calcava aos pés a honra devida às coisas santas, não puderam reter as lágrimas” (ob. cit. Livro Quarto, Cap. 12). Desse modo, foi retirado “o sacrifício costumado” (Dn 8:11), “pela maior de todas as profanações, [pois] se embriagavam mesmo aos pés do altar [...] e gloriavam-se de calcar aos pés a augusta casa do Senhor” (idem, Cap. 14). Portanto, a profanação do Templo se deu em consequência do assédio a Jerusalém, ordenado por Nero.
Só após esse espetáculo e muitas outras tragédias que se seguiram, Tito entrou em Jerusalém, e “o lugar do santuário foi deitado abaixo” (Dn 8:11). Note-se que a destruição do lugar santo não é atribuída diretamente ao pequeno chifre. A frase em que ela foi predita não tem sujeito determinado. Limita-se a afirmar que o santuário seria deitado abaixo.
As 2.300 tardes e manhãs começam com a profanação do Templo, a suspensão do sacrifício costumeiro e a destruição do santuário, durante a guerra dos judeus contra os romanos (66 a 73 d. C.). As profecias de Daniel adotam o costume muito difundido, em certo período histórico, de se referir a um ano pela figura de um dia. O costume é testemunhado em passagens como: “Porque eu te dei os anos da sua iniquidade, segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias [...] Quarenta dias te dei, cada dia por um ano” (Ez 4:5,7) e “Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos” (Nm 14:34).
Vemos por que, na profecia, cada par constituído por uma tarde e uma manhã representa um ano. As 2.300 tardes e manhãs são um período de 2.300 anos, durante o qual o culto sacrificial de Israel permanece suspenso. Sabemos por Daniel 9:27 que esse culto só será restaurado, quando o segundo advento estiver muito próximo. Por isso, o final das 2.300 tardes e manhãs coincide com o segundo advento.
Se considerarmos que o ano bíblico é de 360 dias (Ap 11:3; 12:6,14; 13:5), os 2.300 anos iniciados com a profanação do Templo pelos sicários e a sua destruição por Tito encerram-se por volta de 2.320 d. C. Esse não é “o dia e a hora” exatos do segundo advento, mas a época aproximada em que “o santuário será purificado” (Dn 8:14), e o Santo dos Santos, ungido (Dn 9:24).

sábado, 17 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (1): O Sonho do Rei

A observação do poder do Ocidente causa ao estudante da Bíblia um espanto não muito distinto do que assaltava Daniel, ao contemplar suas visões. Nunca um conjunto de nações alcançou poder tão vasto e vertiginoso quanto a Europa e os Estados Unidos, nos dois ou três últimos séculos. No entanto, essa formação histórica estarrecedora não parece ser mencionada nas profecias bíblicas. Os reinos representados nos oráculos de Daniel e Apocalipse dizem-nos pouco sobre países ocidentais e ainda menos sobre os mais recentes deles.
Consideremos o caso do Império Britânico e seu legítimo sucessor: os Estados Unidos. A importância histórica deles é incomensurável. Raras vezes, um reino conseguiu escapar à contenção exercida por seus rivais, em tão grande medida quanto a Inglaterra e os Estados Unidos, nos séculos XIX e XX. Se considerarmos não só o poderio militar, mas também o econômico dos povos mais dominantes da História, apenas Roma poderá elevar-se ao patamar de preponderância da Inglaterra no século XIX e dos Estados Unidos hoje. E paradoxalmente, as profecias parecem calar-se a respeito dessas duas superpotências.
A omissão, porém, pode ser apenas superficial. Daniel 2 afirma que um reino de ferro misturado com barro sucedeu o das pernas somente de ferro da estátua do sonho do rei Nabucodonosor: “Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil” (Dn 2:42). Se as pernas de ferro representam Roma, o fato de os pés serem em parte de ferro parece indicar que o poder do Império dos Césares não desapareceu, com a dissolução do seu Estado, mas atravessou a Idade Média e chegou aos tempos modernos.


O ouro, a prata, o bronze e o ferro de que quase toda a estátua é feita ensinam que ela, em geral, é bastante sólida, porém a fragilidade dos pés em parte de barro permite que não apenas eles, mas a estátua inteira seja destruída. A lição profética é de que isso acontecerá, no final dos tempos, mediante a intervenção do Messias (a pedra da profecia) na História.

Na Idade Média, os principais candidatos a representar os pés em parte de ferro da estátua foram considerados o reino dos francos e o Sacro Império Romano-Germânico. Antes do cisma ortodoxo, a íntima ligação deste último com o Papa lhe permitiu estender sua influência ao Oriente, por meio de sucessivas alianças com os bizantinos. Com isso, algo do poder abrangente de Roma foi preservado. Após o Cisma, as Cruzadas foram utilizadas para manter um poder universal ativo sobre o Ocidente e o Oriente. E depois das Cruzadas, as navegações e os descobrimentos exerceram a mesma função. De modo que um poder semelhante ao de Roma, primeira na História a reger o Ocidente e o Oriente, atravessou o período medieval.
No entanto, o processo de dominação dos povos dos pés da estátua só se cristalizou maximamente com o Império Britânico e os Estados Unidos da América. Como a estátua do sonho tinha duas pernas, que representam as porções ocidental e oriental do Império Romano, ela tinha também dois pés, que correspondem aos reinos surgidos nas antigas metades imperiais. A Inglaterra fez parte tanto de uma como da outra etapa de desenvolvimento da estátua.
Embora estejam na América do Norte, os Estados Unidos também fazem parte dos pés da estátua. Se prestarmos bem atenção, veremos que nem o reino de ouro, nem o de prata, o de bronze, o de ferro ou o de ferro misturado com barro são tratados como povos do passado. A pedra lançada, no fim dos tempos, destroi a estátua inteira, não somente seus pés (Dn 2:34-35,44-45). Isso significa que todos os cinco reinos estarão sobre a Terra, quando Cristo (a pedra) vier. Portanto, o ouro, a prata, o bronze e o ferro não podem ser, apenas, os reinos históricos de Babilônia, da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma. Mais do que os reinos, eles devem ser a cultura que continuou a existir e se transmitir, de maneira muito mais excêntrica, após o desaparecimento dos respectivos Estados.
A cultura do quinto povo espalhou-se por todo o mundo, durante o período colonial. Podemos denominar Diáspora essa expansão, da qual surgiram a América Latina e o mundo ocidental como o conhecemos. Ambos estão incluídos nos pés da estátua. Como núcleos do mundo ocidental, o Império Britânico e os Estados Unidos são a parte de ferro (países mais fortes) deles.
Os dedos dos pés da estátua correspondem aos dez chifres da cabeça do quarto animal de Daniel. Eles são reis dos últimos tempos, que entregarão seu poder a Anticristo (Ap 17:12-13). Na postagem sobre o quarto animal, veremos que esses reis procederão do mundo islâmico, em torno do Mar Mediterrâneo. Porém, se os pés da estátua incluem a Diáspora Ocidental (colonialismo), os reis deverão manter importante relação com o Ocidente. Principalmente, com a parte mais dominante (a parte de ferro) dele.
Assim como os dedos são parte dos pés, os dez reinos integrarão o contexto da Diáspora Ocidental, que se constituiu a partir de Roma e tem nos Estados Unidos o país-núcleo mais importante. E assim como não se pode esperar que o barro prevaleça sobre o ferro, o contexto da Diáspora deverá ser definido pelos países mais fortes dela. Por isso, tanto o Ocidente como os Estados Unidos têm um papel relevante a desempenhar, no quadro profético das Escrituras.
A noite é escura e impregnada do imperceptível. Por isso, o trabalho de vigiar, nas horas antes da alva, é profundamente silencioso, quando não também solitário. A sentinela que rompe o silêncio antes da hora falha na sua missão. Assim também, para o cristão, velar sobre o tempo atual é atentar para fatos como os apontados acima, não fazer estardalhaço com as profecias bíblicas. A boa sentinela destaca-se pela atenção com que olha e escuta, não pelo alarido antecipado que faz.

terça-feira, 6 de março de 2012

As Profecias e o Tempo (2): O Quarto Animal

A palavra profética é uma candeia que brilha intensamente, em lugar tenebroso (2 Pe 1:19). A luz da candeia não ilumina coisas futuras e sim presentes. Coisas que já estão dentro da casa, não que serão introduzidas nela. Semelhantemente, a palavra profética mostra o significado de fatos que Deus predisse, depois que acontecem, não antes. Só então, a sua luz brilha em toda intensidade e esplendor.
A interpretação das profecias não deve ser reduzida a um esforço de determinação do significado das suas palavras, sem cuidadosa comparação com os acontecimentos históricos. Isso equivaleria à prática de adivinhação com o texto bíblico. Assim como a luz da candeia não se acende espontaneamente, a iluminação profética depende da busca do conhecimento histórico para ter lugar. Por isso, Jesus conclamou-nos a orar e vigiar, isto é, a manter o coração cheio de fé e os olhos atentos aos acontecimentos, pois eles elucidarão o sentido das profecias não realizadas.
Neste texto, gostaria de propor uma interpretação do capítulo 7 de Daniel, à luz de acontecimentos recentes. Daniel viu quatro animais. O primeiro era um leão com asas de águia, que recebeu coração humano. O segundo era um urso, que se ergueu sobre um dos lados com três costelas na boca. O terceiro era um leopardo com quatro cabeças e quatro asas. O quarto era um animal inominado, extremamente forte e com características monstruosas. De acordo com a interpretação mais aceita, o leão representa o Império Neobabilônico, o urso, o Império Medo-Persa, o leopardo, a Grécia, e o quarto animal, Roma.
Robert Anderson mudou parte do panorama escatológico, ao desafiar essa interpretação no seu clássico The coming prince (El príncipe que ha de venir. Barcelona: Espanha, 1980. Apendice). De acordo com ele, os quatro animais não podem ser reinos sucessivos, como os impérios de Nabucodonosor, Ciro, Alexandre e os Césares, pois Daniel 7:3 declara que emergem ao mesmo tempo. Eles são reis simultâneos, como o versículo 17 também sugere: “os quatro animais são quatro reis, que se levantarão da terra”.
O uso do verbo no tempo futuro (“reis que se levantarão”) indica que nenhum deles estava presente, quando Daniel teve o sonho, no primeiro ano de Belsazar (Dn 7:1). Este foi o último regente do Império Babilônico. Portanto, não é possível que Babilônia estivesse por vir, quando Daniel teve a visão. Aliás, a Pérsia também já existia, assim como a Grécia e Roma. Tudo isso aponta para a conclusão de que os reinos do sonho de Daniel não são Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma.
Como o aparecimento dos quatro animais é sucedido pelo estabelecimento de tronos e a vinda do Ancião de dias, para destruir o quarto animal e tirar o domínio dos outros, é provável que estes pertençam ao tempo do fim. Talvez eles já estejam na Terra ou venham a se constituir, no futuro, pela coligação de países hoje existentes.
Devo chamar a atenção do leitor para o fato de que os quatro reinos se erguem “do Grande Mar” (Dn 7:2-3). Trata-se de países ao redor do Mediterrâneo. Este é denominado grande para evitar confusão com o Mar Morto e o Mar da Galileia, que são muito menores. Portanto, os quatro animais deverão emergir do sul da Europa, do Oriente Médio ou do norte da África.
A profecia, porém, não se limita a apresentar os quatro animais. Ela coloca um deles em grande destaque, a saber: o que é descrito como “terrível e espantoso, e muito forte [...] com dentes de ferro e unhas de bronze; o qual devorava, fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobrava”, tinha “dez chifres na cabeça, e um outro que subiu e diante do qual caíram três” (Dn 7:7,19-20).
Os chifres desse animal são os governantes de dez países. Se considerarmos o estado atual da Bacia do Mediterrâneo, identificaremos duas possibilidades claras de dez países se coligarem. A primeira está no sul da Europa. Onze são os Estados dessa região banhados pelo Mediterrâneo: Espanha, França, Itália, Eslovênia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Albânia, Grécia, Turquia e Chipre. Porém, nessas terras, há pelo menos três religiões predominantes: a católica, a ortodoxa e a muçulmana. Se considerarmos que boa parte dos países da Europa Mediterrânea formou-se, na década de 1990, com base em diferenças de religião e cultura, é improvável que venham a superar essas diferenças a ponto de agirem como um só país, do modo como os dez reinos agirão (Ap 17:17).
A segunda possibilidade é de os países islâmicos do Mediterrâneo virem a se coligar. Hoje, esses países são nove: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Autoridade Palestina, Líbano, Síria e Turquia. Através do Mar Vermelho (e do Canal de Suez), a Jordânia e a Arábia Saudita também têm acesso imediato ao Mediterrâneo. Como todos esses países são muçulmanos e compartilham a mesma cultura, é mais provável que a coligação do quarto animal venha a surgir deles do que da Europa.
Essa interpretação concorda com uma série de outros dados proféticos. Apocalipse 6:8 indica que os acontecimentos do quarto selo atingem a quarta parte da terra. Como as sete trombetas recaem sobre a terça parte (8:7-12 e 9:15,18), é possível concluir que Apocalipse adota a divisão do mundo nos quatro primeiros reinos da estátua de Daniel 2. Sobre esses reinos, recaem os juízos do livro. Uma vez julgada a quarta parte da terra (o território de um dos quatro reinos da estátua), restam outras três. Uma delas é atingida pelas trombetas. Com base na História recente, é possível identificá-la como o território do reino de Alexandre, o Grande (o ventre e os quadris de bronze da estátua), ocupado por povos árabes.
A coligação que deverá emergir do mundo islâmico não se confunde com o reino de Anticristo representado pela besta de Apocalipse 13. Esta tem características muito distintas do quarto animal de Daniel 7, assim como as sete cabeças. Daniel nada diz de semelhante sobre o quarto animal que sobe do Grande Mar. Porém, não se pode descartar e é até provável que as duas feras venham a se estabelecer ao mesmo tempo na Terra.
O mapa político da costa mediterrânea poderá se alterar, até o tempo em que o oráculo de Daniel se cumprir. Por isso, evitei identificar definitivamente os dez reinos com países de hoje. No entanto, mudanças políticas tendem a ocorrer sobre (e a limitar-se por) uma base civilizacional muito mais estável. Penso que essa base corresponde à cultura islâmica mediterrânea, não à cultura europeia.
Tudo isso mostra como é importante estudarmos a palavra profética à luz dos acontecimentos. Num futuro não muito distante, os fatos indicarão quais países mediterrâneos aproximar-se-ão e entrarão em aliança. Quando isso ocorrer, a profecia de Daniel será ainda mais elucidada, e os últimos acontecimentos estarão na iminência de se precipitarem.