Vimos que o verbo bara (criar) é usado só para os seres que Deus formou pela primeira vez. Com esse significado, o termo aparece em Gênesis 2:4: “Esta [a história dos seis dias] é a gênese dos céus e da terra, quando foram criados [bara]”.
Claramente, o versículo se refere aos dias de Gênesis 1 como a criação dos céus e da terra, portanto como o detalhamento do que está afirmado concisamente no verso “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). Desejo mostrar que esse sentido dos dias da criação, quando comparado aos dados científicos, nos permite realizar um achado verdadeiramente maravilhoso.
No primeiro dia, Deus disse: “Haja luz. E houve luz” (Gn 1:3). A luz do primeiro dia era muito mais fraca que a que surgiu com os luzeiros. Se os dias descrevem a criação original, podemos comparar o primeiro deles ao estado da Terra, logo que foi criada. O físico Fred Hoyle descreve esse estado da seguinte maneira: “É este o quadro correspondente às primeiras centenas de milhões de anos da história da Terra [...] um período de formidável devastação, durante o qual a superfície da Terra foi atingida por uma chuva de objetos que, devido à maior gravidade da Terra, deve ter sido mais destrutiva do que o intenso bombardeamento que simultaneamente produzia a paisagem marcada da Lua” (HOYLE, Fred. O universo inteligente – uma nova perspectiva da criação e da evolução. Lisboa: Presença, 1983. pp. 70-71).
Outro físico, Robert Jastrow, descreve o final do primeiro bilhão de anos da Terra nos seguintes termos: “A terra está com um bilhão de anos de idade. Há uma friagem no ar, pois o sol é um astro jovem e relativamente fraco, irradiando apenas a metade do calor e da luz que irá produzir mais tarde” (JASTROW, Robert. Até que o sol se apague. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980. p. 29).
Se com um bilhão de anos, a Terra era banhada por metade da luz existente hoje, pois o sol era jovem demais, uma quantidade ainda menor de radiação luminosa existia quando ela se formou. E se o planeta era bombardeado constantemente por corpos celestes, temos de convir que a poeira erguida diminuía ainda mais a luminosidade. Esse cenário não é assaz convergente com o da luz tênue de Gênesis 1:3? Se os seis dias registram os atos criadores de Deus, pode-se concluir que o primeiro o faz com admirável precisão.
Avancemos, porém, ao segundo dia, quando Deus fez o firmamento (a atmosfera), entre as águas de baixo (o oceano) e as de cima (as nuvens). É ainda Robert Jastrow quem diz: “Assim que a terra se formou, os átomos radioativos contidos no planeta começaram a desintegrar-se, um a um. Ao liberar suas pequenas cargas de energia, aqueceram as rochas internas [...] setecentos milhões de anos depois [...] lá em cima, nos pontos fracos, a rocha fundida irrompeu pela crosta terrestre, um vulcão entrou em erupção na superfície e uma torrente de lava foi derramada. Surpreendentemente, essa lava foi a fonte da atmosfera e dos oceanos da terra” (idem. pp. 29-30). Um terceiro cientista, Hubert Reeves, assim relata a formação dos mares: “Quando o planeta se reveste de vasta e densa atmosfera, a água se condensa. Chove como nunca mais choverá. Chovem todos os oceanos” (REEVES, Hubert. Um pouco mais de azul – a evolução cósmica. São Paulo: Martins Fontes, 1986. p. 91).
Por essas descrições se vê que a atmosfera e o oceano foram formados, após 700 milhões de anos de existência da Terra a girar pelo espaço. Esse marco corresponde ao início do segundo dia de Gênesis, no qual os mares e a atmosfera foram constituídos. Portanto, mais uma vez, há manifesta coincidência entre o relato bíblico e a sequência de origens penosamente descoberta pela ciência.
O período seguinte ao da formação da atmosfera e do oceano é descrito nos seguintes termos pelo cientista: “Um mar raso cobre a superfície do planeta. Suas águas são estéreis; nelas, a vida brotará mais tarde, embora ainda não tenha surgido” (JASTROW, Robert. Ob. cit. p. 31). Se a terra emergiu das águas, no terceiro dia, é porque havia estado inundada, como o texto citado esclarece. Nessa época, nenhum ser vivente havia sido formado. De novo, a descrição de Gênesis se mostra maravilhosamente compatível com a da ciência.
Jastrow prossegue: “A terra já deixou seu primeiro bilhão de anos para trás; hoje, no segundo dia de vida [metáfora usada por ele para facilitar o entendimento da evolução], o planeta adormecido remexe-se incansavelmente [...] A intensidade do movimento aumenta; logo as profundezas são devastadas por convulsões, e o topo dos primeiros continentes ergue-se acima do nível do mar” (idem. p. 35). Um bilhão de anos nos remete ao período que se seguiu à formação da atmosfera e dos mares. Portanto, ao terceiro dia de Gênesis, quando a terra emergiu das águas. Não estamos, de novo, diante de uma convergência espantosa entre a Bíblia e a ciência?
Poderíamos parar a análise neste ponto, posto que a formação estrutural do planeta, antes do surgimento dos seres vivos, está concluída. Se o fizéssemos, já teríamos o desafio formidável de explicar a concordância do texto analisado com descobertas científicas realizadas milênios depois da sua redação. Claro que o desafio seria insuperável, independentemente do que viéssemos a concluir sobre a formação dos seres vivos.
Porém, prossigamos. Talvez nossos olhos estejam a iludir-nos... Talvez um feitiço, como os de Janes e Jambres, nos tenha paralisado. Ainda no terceiro dia, Gênesis narra a criação dos vegetais terrestres. Os dados científicos mostram que as primeiras plantas terrestres do registro fóssil têm entre 500 e 470 milhões de anos (Revista Nature, 30/11/2000). As primeiras árvores de grande porte, chamadas archaeopteris, são de 370 milhões de anos atrás (Revista Nature, 22/04/1999). Esse período pode perfeitamente corresponder à segunda parte do terceiro dia (yom), se cada dia (yom) for tomado como uma era de duração indefinida.
No quarto dia, é narrada a criação dos luzeiros. Sobre esse ponto, a sempre útil narrativa de Jastrow assevera: “Rochas a mil quilômetros abaixo da superfície do planeta, parcialmente derretidas e transformadas por calor e pressão intensa, começaram a abrir caminho para cima. Material derretido atingiu a superfície; vulcões entraram em erupção [...] Essas mudanças ocorreram, no interior e na superfície da terra, há trezentos e cinqüenta milhões de anos. Durante os cem milhões de anos anteriores àquele período, o interior da terra repousava em calma” (JASTROW, Robert. Ob. cit. p. 40).
O intenso vulcanismo a que Jastrow se refere coincidiu com a colisão de um meteorito com a Terra, há 360 milhões de anos. A colisão resultou numa gigantesca cratera descoberta em 2013 na bacia de East Warburton, no sul da Austrália, que tem 10 a 20
km de diâmetro. De acordo com Andrew Glikson, professor convidado da Universidade Nacional da Austrália, "o que realmente impressiona
é a extensão da zona de impacto, de no mínimo 200 km (de diâmetro), o que torna
a terceira maior superfície no mundo impactada por um corpo celeste”. Glikson
concluiu que a queda desse asteroide, há 360 milhões de anos, provocou um "impacto regional e
mundial" (GLIKSON, Andrew. Uol News. 20/02/2013, 19h32).
Não é preciso acrescentar que esse evento cataclísmico ajusta-se com precisão aos fatos do final do terceiro dia da criação. Portanto, a obra do quarto dia consistiu no desanuviamento da atmosfera terrestre, após a colisão do meteorito e o surto de vulcanismo descritos.
O quinto dia não se aplica à criação original da Terra, pois os itens nele originados foram criados pela primeira vez e abençoados por Deus. Devemos, então, saltar para o sexto dia, quando foram formados os répteis, os animais selvagens e os domésticos. Na Bíblia, répteis são seres rastejantes, sem asas e dotados ou não de patas.
Os répteis bíblicos surgiram abundantemente, no registro fóssil, entre 350 e 250 milhões de anos. Portanto, após o fim do vulcanismo do quarto dia. Os primeiros animais quadrúpedes, de nome complicado (tecodontes e terapsidas), datam da mesma época. Sobre eles, a Wikipedia discorre: “Os tecodontes [...] apareceram pela primeira vez no Permiano e floresceram até ao fim do período Triássico”; “Os terapsídeos surgiram no período Permiano”. A enciclopédia situa o Permiano, entre 299 e 251 milhões de anos atrás. Portanto, também os primeiros animais não rastejantes surgiram, no ponto exato da História da Terra em que a sequência bíblica os localiza.
As linhas acima resumem o resultado da aplicação dos seis dias à criação original. A comparação com as descobertas científicas mostra que os dias reconstituem, de modo maravilhoso, a exata sequência de origens dos itens estruturais e dos seres vivos da Terra. Janes e Jambres não teriam feito melhor, ainda que tivessem tentado revelar as origens com base nos mais bem guardados segredos egípcios.
Ante tamanha convergência, será possível pensar que os sete dias descrevem apenas a recriação e não a criação original de Deus? Mais do que isso: será possível pensar que o capítulo 1 de Gênesis é um simples relato humano e não uma revelação divina? Ou que ele não constitui uma irrefutável evidência da criação?